Onde é que nós já vimos<br>este filme?

Margarida Botelho

O ce­nário es­tu­dado ao mi­lí­metro, o guião bem pre­pa­rado, os pro­ta­go­nistas ba­tidos. A cada Con­gresso do PSD, re­pete-se o filme: ba­rões e ba­ro­netes, en­fant-ter­ri­bles e ex-se­cre­tá­rios-ge­rais, os pre­sentes e os au­sentes, todos com o seu papel bem en­saiado, a pa­recer que dis­cordam para que no fundo con­virjam em tudo o que é es­sen­cial.

O Con­gresso desde fim-de-se­mana foi o pri­meiro de­pois da der­rota do PSD (e do CDS) nas elei­ções le­gis­la­tivas de 4 de Ou­tubro. Seis meses de­pois, seria le­gí­timo es­perar que já ti­vessem tido tempo para se ha­bi­tuar à ideia de que per­deram as elei­ções. Apa­ren­te­mente, não foi su­fi­ci­ente. A ar­ro­gância, o au­to­ri­ta­rismo, o des­prezo pela vida con­creta dos por­tu­gueses, o ódio à Cons­ti­tuição, lá con­ti­nuam in­tactos. Talvez o PSD venha a ser um caso de es­tudo no fu­turo: de tanto re­pe­tirem a con­versa das elei­ções para pri­meiro-mi­nistro, pa­rece que ainda não lhes en­caixou bem a ideia de que o que o povo por­tu­guês elegeu foram os 230 de­pu­tados que de­ci­diram uma so­lução go­ver­na­tiva que não passou pelo PSD e o CDS. Hão-de ter de se ha­bi­tuar, te­nhamos pa­ci­ência.

O es­forço de bran­que­a­mento da acção des­trui­dora do PSD (e do CDS) no Go­verno foi óbvio, e de resto bem acom­pa­nhado pelos co­men­ta­dores do cos­tume. Até Maria Luís Al­bu­querque, a mi­nistra das Fi­nanças de que nin­guém tem sau­dades, a nova «as­ses­sora» de uma das em­presas-abutre das dí­vidas pú­blicas, teve di­reito à sua pró­pria la­vagem de imagem. Al­can­do­rada a vice-pre­si­dente, apre­sen­tada como um quadro po­lí­tico sur­pre­en­dente, in­cluída na «equipa de mu­lheres» de que Passos Co­elho se ro­deou, valeu tudo para dis­farçar o óbvio: é que o grande ca­pital gosta dela, e Maria Luís cor­res­ponde di­li­gen­te­mente aos seus in­te­resses.

Os con­gressos dos par­tidos da po­lí­tica de di­reita re­petem-se à exaustão, no fol­clore e nas ques­tões es­sen­ciais. Lá apa­re­ceram a re­visão das leis elei­to­rais, o ataque à Se­gu­rança So­cial, o ajuste de contas com a Cons­ti­tuição. O filme do cos­tume, as re­ceitas do cos­tume. Basta! O fu­turo do País de­pende da rup­tura com a po­lí­tica de di­reita.




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